segunda-feira, 25 de março de 2013

VERBOS por FÁBIO MONTEIRO


Sempre gostei de verbos. Na maior parte das vezes não conseguia conjugá-los no futuro, soavam como imprevisíveis e incertos. Gostava dos tempos passados e suas regularidades na memória. O pretérito imperfeito gerava uma curiosidade de erro e  dúvida sobre o ocorrido, já o mais que perfeito a certeza de memórias indeléveis e distantes.

Gostava de verbos de movimentos; pular, correr, jogar, namorar, viajar, dançar. Tinha admiração pelos difíceis irregulares ser e ter. Sempre confundia a importância do ser com a necessidade do ter, e nessas confusões escolhia o primeiro, compreendendo a importância de projetar o outro.

Estudar não era um verbo de movimento, enquadrava-se nos verbos de necessidade, junto com comer e dormir, aliás com reconhecidos charmes. Apontava para um futuro tão incerto quanto as regências estudadas.

Verbos e suas transitoriedades eram sempre bem vindos. Perguntava o que ou quem? E logo vinha um complemento que significava compartilhamento. Verbos nas suas intransitividades, solitários na sua composição. Por exemplo, o verbo ir, tantas vezes usado e abusado; Foi tantos, foi embora, foi. Nada mais, no máximo um adjunto complementar que não nega a essência da ação.

Verbos e suas intransigências. Lembro-me em tentar decorá-los para a chamada oral. Todos tinham dez minutos iniciais para finalizar um decoreba para a resposta na ponta da língua. Tensão da espera. A professora chamando um a um na frente de sua mesa. Rezas para que perguntasse sobre o que eu tinha mais segurança. Mas, na sequência, no estalar de uma pronúncia impecável da Professora Fátima, quase sempre respirava errado e perdia a sequência entre salivas e desesperos. Iniciava com Eu, mas quando chegava o Vós, passava impessoal demais. Era o momento de reconhecer minhas impossibilidades e limites.

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