quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

MORTE E VIDA SEVERINA por JOÃO CABRAL DE MELO NETO


                     FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO


— O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

SONHOS por FÁBIO MONTEIRO




Bom mesmo é acreditar num sonho!
Sorvete de chocolate, montanha russa, viagem para lugar bonito, namoro escondido, primeiro beijo, versos de poetas, filme de terror, suco descendo a garganta, cadeira do papai, banho no calor é bom,
mas bom mesmo, é acreditar no sonho!
Brisa que sopra no vento e cai na cabeça feito ideia. Ondas que vem, derrubam estruturas rígidas, tiram do lugar, rompem com as certezas, brincam com as verdades. Entra pelos poros até o cérebro, instala-se e não sai mais. Pode pular num pé só, girar de ponta-cabeça, jogar-se do precipício e não sai mais. Invade. Vira mania, toma o corpo.
Sonha-se alto, sonha-se baixo, revela-se. Nasce! Nasceu!
Vê um sonho nascido é pari-se novamente. Dá medo em abrir os olhos, chorar e ninguém escutar, fome de mãe, quer colo, proteção. Vêm os primeiros passos, as primeiras quedas, os primeiros horizontes. Olha-se para trás e desenham-se uma caminhada em meandros, às vezes elípticas, outras espiraladas, mas a meta é seguir adiante, a bombordo.
Chega-se ao primeiro, com 30, 40, 50. Chega-se mais adiante, porque sonho não pára. Sonho é bom, tem gosto de chocolate russo, viagem escondida, beijo de garganta, versos de papai, banho bonito, suco de terror. Sonho é pra ser vivido, lambuzado na gente!
E viva o meu seu nosso. Contemos, feito os pequenos; 1 ano, 6, 18, 100. 100 vezes 1!
Que lindo nascer de um sonho! Que lindo ver o sonho crescer!

Bologna Children’s Book Fair 2013 pela FNLIJ


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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

TRILHOS DE SOL por FÁBIO MONTEIRO


Hoje o dia amanheceu balançando em vagões.  
O trem passou deslocado, em movimento que hora pendia para um lado,
hora contentava-se em seguir seu fluxo.
O sol adentrou os espaços vazios, fez-se azul, vermelho, amarelo nas coisas que há.
Intruso de uma noite pequenininha, com poucos sonhos, com pouco tempo de adolescer. 
Lembrei-me da cidade quase sem noite que nasci. Das tardes num mar quente feito sol.
Do mendigo no Cais de Santa Rita puxando seu cobertor de papelão para esconder
olhos dos raios.               
Lembrei-me do seu Juarez e a inesquecível mania de empinar papagaios depois dos 50,
a bichinha balançando de vento e ele firme dando solavancos na armação de palha e papel de seda. Não sei como ela aguentava, mas balançava sua calda de plástico azul em agradecimento, confundindo-se com as tonalidades de um céu sem nuvens.
A menor vontade de ser dia,
as gentes indo aos trabalhos,
um mar de prédios e sem janelas para o mar ,
o rio recortando a cidade em silêncio, cheio de dissabores.
E o sol queimando como se fosse trem; seguindo o trilho, seguindo o rio, seguindo as gentes.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

SOBRE SUCATAS por MANOEL DE BARROS

 
Isto porque a gente foi criada em lugar onde não tinha brinquedo fabricado. Isto porque a gente havia que fabricar os nossos brinquedos: eram boizinhos de osso, bolas de meia, automóveis de lata. Também a gente fazia de conta que sapo é boi de cela e viajava de sapo. Outra era ouvir nas conchas das origens do mundo. Estranhei muito quando, mais tarde, precisei de mora na cidade. Na cidade, um dia, contei para minha mãe que vira na Praça um homem montado no cavalo de pedra a mostrar uma faca comprida para o alto. Minha mãe corrigiu que não era uma faca, era uma espada. E que o homem era um herói da nossa história. Claro que eu não tinha educação de cidade para saber que herói homem sentado em cavalo de pedra. Eles eram pessoas antigas da história que algum dia defenderam a nossa Pátria. Para mim aqueles homens em cima da pedra eram sucata. Seriam sucata da história. Porque eu achava que uma vez no vento esses homens seriam como trastes, como qualquer pedaço de camisa nos ventos. Eu me lembrava dos espantalhos vestidos com as minhas camisas. O mundo era um pedaço complicado para o menino que viera da roça. Não vi nenhuma coisa mais bonita na cidade do que um passarinho. Vi tudo o que o homem fabrica vira sucata: bicicleta, avião, automóvel. Só que não vira sucata é ave, árvore, rã. Até nave espacial vira sucata. Agora eu penso uma garça branca de brejo ser mais linda que uma nave espacial. Peço desculpas por cometer essa verdade.
Poema SOBRE SUCATAS. Livro Memórias inventadas por Manoel de Barros.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

TOM por André Neves

A história do menino Tom é contada por seu irmão, que sempre o observa intrigado: "Por que Tom não brinca? Por que Tom não diz o que sente? (...) Onde Tom guarda todos os seus sonhos?". Até que um dia, Tom chama seu irmão para que conheça o seu segredo e assim possam, de verdade, se aproximar. Editora Projeto. 2012



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