sexta-feira, 24 de julho de 2015

CARTAS A POVOS DISTANTES por PETER O. SAGAE

pois ninguém está só

Quando o carteiro chegou... 9


É o texto que me leva à leitura. Texto, digo e repito, palavra e imagem. Palavra e imagem que nem sempre necessitam ser ilustradas, salientes. O silêncio e o vazio falam à criança e ao jovem leitor. A ausência também, também o mistério. E quanto mais forte e leve for o texto, mais longe vou... E não posso deixar de assinalar que, cuidadoso, o trabalho com a linguagem de Fábio Monteiro tem se revelado aberto para a leitura em voz alta.

Do começo ao fim, leio e ouço Cartas a povos distantes.
Experimente um parágrafo da página 32:
Todos os dias verificava se havia alguma correspondência na caixa do correio. Cada vez que a abria e nada encontrava, a angústia da espera aumentava. Naquele tempo, os minutos, horas, dias eram mais longos que hoje. As distâncias também. O mundo era grande e muito diferente do que imaginamos hoje. Mal conhecíamos o lugar em que morávamos. As cartas levavam dias para chegar a seu destino. Claro que isso tinha certo charme – entre a espera e a chegada, criava-se um misto de ansiedade e alegria em receber notícias das “gentes” de longe.

Em seu livro, Fábio Monteiro conta a história de Giramundo, um menino que inventa línguas e lugares, mas inesperadamente passa a receber mensagens de um remetente desconhecido, de um país que ele apenas sabia ficar do outro lado do oceano... São cartas que vêm de Angola, de um amigo de Luanda. Na correspondência feita de papel e coincidências, os dois meninos começam a descobrir um ao outro através da palavra escrita e do espanto... A trama passeia entre discursos, do mundo comentado ao mundo narrado, do exercício epistolar a uma amizade sem fronteiras, traço da própria identidade, rumores do tempo a que pertencemos. Um Giramundo de cá, um amigo de lá. Como construir pontes de solidariedade e conhecimento?


Entre perguntas e respostas, o silêncio tudo amarra. Cada um dos personagens (e também o leitor) descobre que não está só. A correspondência entre os dois meninos, de um modo bastante significativo, atravessa de novembro de 1985 a março de 1986. Apesar de 10 anos independente da colonização portuguesa, Luanda aguardava ainda a retirada das forças estrangeiras em um cenário movimentado por uma guerra civil que duraria quase três décadas. No intervalo criado pela narrativa de Giramundo e seu amigo distante, o momento histórico talvez seja uma sombra desconhecida e tênue que vai se preenchendo apenas da vontade de receber a próxima carta; no entanto, é uma fração do tempo que o livro traz para ancorar, a todos nós, em nosso presente...

Cartas a povos distantes, de Fábio Monteiro, tem as ilustrações e o projeto gráfico assinados por André Neves (Paulinas, 2015).


“E, quando não aguentou mais o peso do conhecimento, 
dormiu um sono dobrado pela certeza de 
querer ainda mais e mais conhecer esse amigo.”

* * *
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http://dobrasdaleitura.blogspot.com.br/2015/07/pois-ninguem-esta-so.html

sexta-feira, 17 de julho de 2015

JORNAL ABCD MAIOR: CARTAS A POVOS DISTANTES por PENÉLOPE MARTINS



Ele me convenceu que “a vida é feito pulga e que não é preciso ter pernas pequenas para brincar de criança”. Confesso que não compreendi tudo sobre a metáfora da pulga, mas afinal, alguém compreendeu tudo sobre a metáfora da vida?
Giramundo conhece todos os livros de geografia e cartografia possíveis para sua idade. Pratica horas e horas de línguas inventadas por eles para os lugares desconhecidos. É um ‘mexedor’ de mistérios, no tanto que mexeu acabou que mexeram com ele.
Um dia recebeu um envelope. No lugar do remetente somente o enigma ‘novo amigo’. Dentro, um papel amarelado trazia a localização geográfica e uma data de origem. Algo oco, surgido do nada e sem saber pra que é o convite que se espera para a curiosidade acelerar.
Luanda. África.
Quem diria que um novo amigo vinha de tão longe…
Eu também gostaria de ir para Luanda, mas ainda não fui e é por isso que imagino. Até misturei no ritmo da nossa conversa um maracatu, afinal as minhas pernas longas não me impedem se brincar de criança. Cantei para Giramundo a canção de  Alceu Valença enquanto ele me contava sua história.
Outro menino se juntou a nossa roda. Veio dizendo que “se de tanto insistir – pena vira antiquário, cabelo vira penteado, nariz cheira tempo bom”; contou que ele vingou depois de sete. “Foram de quatro em quatro: quatro saias e quatro calções. Eu, pequeno e já barrigudinho, nasci de rebento, final da cadeia produtiva. Último, caçula, dizem que o mais paparicado entre os meninos e meninas. No íntimo, sabia que minha mãe e meu pai não “miguelavam” carinho para os outros, mas comigo, no silêncio das minhas fantasias e desejos, o doce era um pouco mais doce”.
Respondi pro menino caçula, que minha sorte foi ser a primeira. A primeira de um trio de filhos, a primeira neta de uma dúzia tem sempre a vantagem da novidade. Claro que eu sabia que a avó, o avô, assim como os pais com o trio, não faziam diferença entre a criançada. Mas era a primeira, o doce um pouco mais doce.
E se Giramundo lia os mapas do mundo, o menino caçula vinha espalhando livros de poesia, Castro Alves, Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto, na mesma estante em que reinavam memórias de Emília, Pinóquio e Alice. Sim, respondi aos dois que os livros também me vieram dizer alguma coisa. Fiz força para lembrar de uns realmente bons, mas Giramundo insistiu com cruzar o oceano para alcançar Luanda e eu acabei cantarolando:
“Navegar é preciso, viver não é preciso.”
E não disse nada sobre a Pessoa que tinha inventado aquilo.
O novo amigo. Sim, o novo amigo de Luanda é assunto ainda para Giramundo contar. Fábio, o menino caçula, teve tempo de dizer que viajou muitas vezes nas bibliotecas da Escola Cônego Rochael de Medeiros e João Barbalho no Recife (essa última também frequentada em outros tempos por Clarice Lispector); “foram meus pontapés para uma leitura do prazer na infância. Foram tantas histórias, tantas viagens para mundos tão distantes dos meus, foram tantos percursos feitos com a língua, a linguagem, a fantasia do corpo lançado ao desconhecido”.
Talvez tenha sido por causa disso que Fábio inventou Giramundo…
“A escrita veio diluída nisso tudo. Primeiro os gestos, depois as palavras, depois o registro, depois a subversão. Escrevo subvertendo a ordem, desafiando o sentido, instigando o leitor a pensar sobre o não dito. É assim que gosto, é assim que uso a palavra pensada-escrita-falada, não necessariamente nessa lógica, não necessariamente como comando. A palavra manda em mim. Ela vai saindo e virando ideia. Toma forma, vira história e não é mais minha.
 Isso me interessa como leitor e escritor.
O livro “Cartas a povos distantes” aconteceu nesse desejo. Uma maneira de escrever para o outro, um encontro com outro que também está em mim. Esse outro que abre um livro e espera o desvelar de uma história que precisa dele para ser completada. Um encontro entre criador de palavras e imagens com alguém que a transforma em subjetividades e fantasias.”
Giramundo se calou para ouvir a voz do dono da voz. É como o personagem fica quando o autor conta de onde ele surgiu. Fica “observativo” para fazer o jogo da invenção de palavras.
Fábio Monteiro é meu novo amigo escritor. Não é de Luanda, mas me fez viajar o desejo de encontrar terras distantes com seu novo livro CARTAS A POVOS DISTANTES (Editora Paulinas), ilustrado por André Neves, esse outro amigo que sabe brincar com imagens e palavras sem perder a curiosidade da criança.
Engraçado que eu cantei Alceu Valença para Giramundo, personagem do livro, sem saber que Fábio Monteiro assim como André Neves são meninos do Recife.
Então, Luanda, Luanda, venha nos contar sua história que é a nossa, histórias de povos que viram no navegar a vida imprecisa…
Fonte: https://todahoratemhistoria.wordpress.com/author/penelopemartins/
http://www.abcdmaior.com.br/materias/cartas-a-povos-distantes

quarta-feira, 15 de julho de 2015

CRIAR HISTÓRIAS POR FÁBIO MONTEIRO

PERSONAGENS DOS LIVROS JÁ LANÇADOS - COMO NATUREZA, CARTAS A POVOS DISTANTES E A MENINA QUE CONTAVA. A ILUSTRAÇÃO O CENTRO, SERÁ LANÇADO EM AGOSTO. 

A escrita veio diluída nisso tudo. Primeiro os gestos, depois as palavras, depois o registro, depois a subversão. Escrevo subvertendo a ordem, desafiando o sentido, instigando o leitor a pensar sobre o não dito. É assim que gosto, é assim que uso a palavra pensada-escrita-falada, não necessariamente nessa lógica, não necessariamente como comando. A palavra manda em mim. Ela vai saindo e virando ideia. Toma forma, vira história e não é mais minha.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

LANÇAMENTO EM AGOSTO - ILUSTRAÇÕES DA ELMA.

Chegando... Em agosto!
Livro em parceria com a querida e talentosa Elma Fonseca de Lima, editado pelo competente Gil Vieira Sales. 
Editora do Brasil
.


Feliz demais!



terça-feira, 7 de julho de 2015

CARTAS A POVOS DISTANTES POR CRISTINA SÁ

LANÇAMENTO DA EDITORA PAULINAS: "CARTAS A POVOS DISTANTES" DE FÁBIO MONTEIRO E ANDRÉ NEVES

http://cristinasaliteraturainfantilejuvenil.blogspot.com.br/2015/06/lancamento-da-editora-paulinas-cartas.html
                                        SITE DA EDITORA: www.paulinas.org.br

COLEÇÃO ESPAÇO ABERTO

INDICAÇÃO: a partir de 10 anos (leitor fluente)


96 páginas  

                                   " Dois mundos. Uma carta.
                                     Um mistério.

                                     Uma história que rompe a distância

                                     de um oceano inteiro,
                                     para desaguar nas fronteiras
                                     que unem o Brasil e a África.

                                     As guerras podem

                                     ser evitadas
                                     as amizades não."


Em "CARTAS A POVOS DISTANTES", o escritor FÁBIO MONTEIRO  compartilha

com  o leitor  a história de Giramundo, um  menino,  que  com  suas  invencionices,
costumava  impressionar  muito uma  plateia  de  'supostos'  amigos. Ele  conhecia
todos os livros de geografia e cartografia  possíveis, mas tinha a mania de inventar
lugares e idiomas que não existiam. Giramundo se relacionava com as pessoas de
um modo bem particular.

            "No fundo do peito, era difícil para Giramundo ter tantas ideias e

             ser tão sozinho com todas elas. Era como  se  a imaginação não
             encontrasse  tempo  e  espaço corretos para  existir. Giramundo
             era  todo  alegria  em  aproveitar  o  tempo  para  criar  amizades 
             inventadas  e  lugares desconhecidos. E  muitas vezes brincava 
             só, porque assim não havia perigo de "rompidão".

             Dizem  que  tudo no  mundo gira e que o que é de baixo vem pra 

             cima, tal  qual  roda  de vento, formiga  em buraco - mistérios da
             vida que se encarregam de nos ensinar sobre nossos malfeitos.

             Com  o Giramundo  não  foi  diferente. De tanto  que mexeu com 

             essas  histórias  e   línguas  de  povos  distantes,  de  tanto  que
             brincou com o  desconhecido destino, de tanto que fez, de tanto
             que  aprontou,  um  dia  recebeu, com surpresa, um envelope de
             um lugar  desconhecido, sem  nome do remetente, o primeiro da
             sua  vida. Dentro,  um  papel  amarelado  pelo  tempo,  linhas em 
             branco  com  localização  geográfica  e  data  de  origem,  e nada
             mais."

Esta primeira e misteriosa carta, vinda de Luanda, rompeu  a distância e a imensidão

de um  oceano e acabou  atando  duas pontas  de uma  verdadeira amizade, pois as
trocas de cartas continuaram por anos e anos...

Giramundo, que  vivia  inventando  histórias,  acordou  para  vida.  Descobriu  muitas

coisas: tinha conquistado um amigo verdadeiro, podia conhecer o mundo sem sair de
casa e descobriu  que não  precisava mais mentir,  pois histórias  verdadeiras tinham
um sabor especial.

Por  trás da  história  de Giramundo, o leitor vai  encontrar um  sentido crítico que vai

desde a luta pela liberdade de Angola até a guerra civil no país, que matou  milhares 
de africanos,  fez milhões de refugiados  e  causou danos ao patrimônio público. Mas
tudo envolto numa linguagem que revela compaixão e fraternidade.

O  texto  de  FÁBIO  MONTEIRO, escrito  com  apuro  de  linguagem  e com  muita
sensibilidade, emociona e revela-se com algumas entrelinhas para, pouco a pouco,
serem preenchidas pelo leitor.

O escritor FÁBIO MONTEIRO, que é também  historiador e  professor, no  posfácio

do livro,  apresenta nota sobre cartas, memórias e  amizades, traçando um paralelo 
da história de Giramundo com a sua própria história de vida.


"CARTAS A POVOS DISTANTES" é um livro  envolvente e comovente! 


Esta  obra  reúne, ainda,  muitos  outros  pontos  interessantes. Todos  estes pontos, 

aqui  destacados ou não, sem  dúvida, imprimiram à história de Giramundo emoções,
que irão ecoar mesmo depois que o leitor fechar o livro.


AS ILUSTRAÇÕES:



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No  livro "CARTAS  A  POVOS  DISTANTES", as  ilustrações e  o projeto gráfico, 

assinados por ANDRÉ NEVES, são uma atração inegável. 

O colorido forte da capa não aparece nas ilustrações do miolo do  livro, onde os

tons pastéis e a monocromia figuram com muita elegância.

As ilustrações deste livro são  impactantes e instigantes. Com um traço que é só  

seu  e sempre fiel ao seu estilo, o  ilustrador constrói, através das imagens, uma 
narrativa própria, para contar a história de Giramundo.

O projeto gráfico do livro é bastante expressivo, explora recursos que compõem 
muito  bem  este  trabalho  e despertam  a atenção  do  leitor, em alguns pontos,
como  por  exemplo: o  colorido  forte da  capa / capa com abas / uso da cor na
parte  interna  da  capa  e  abas / ficha  catalográfica  sobre  folha  envelhecida / 
sumário em  página dupla  tendo  como fundo  o  mapa de  Angola, vários  selos
do país e papel envelhecido / a  numeração  das páginas  /  fontes diferenciadas
das cartas...

Todas as soluções gráficas encontradas pelo artista conferiram beleza ao projeto
e tornaram o livro mais atraente.


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