sábado, 28 de janeiro de 2017

SERTÃO no CATÁLOGO DE BOLONHA 2017



A Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil selecionou o livro 'Sertão' para compor o Catálogo Internacional da Feira Literária de Bolonha. Meu livro estará na companhia de outras obras lindíssimas de escritores e ilustradores brasileiros que admiro muito. A Feira de Bolonha é um das maiores feiras literárias dedicadas ao mercado da literatura para infância e juventude, uma honra participar de um evento tão importante.
Clique no link para conhecer todo o catálogo da FNLIJ.
Catálogo da FNLIJ para Feira de Bolonha/Itália.


terça-feira, 24 de janeiro de 2017

OLHAR E SER OLHADO




Olhar e ser olhado por ele, 
por ela, 
por todos eles. 
Aqueles pequenos seres!
Voltar à sala de aula, voltar às aulas, voltar a construir conhecimento e ser desconstruído nos desafios de um cotidiano entrevero. 
Conhecer anseios, olhar o brilho da íris, preocupasse com o singular de cada um deles, mas não ter todas as soluções de imediato, ser cauteloso com cada situação de desespero. 
Ter medo, cuidar do medo dos outros, ser humano mesmo.   
O ofício do professor é o limiar entre o acerto e o erro, e eu sei, já disseram, mas repito para me convencer desse feito. 
É brincadeira séria que nasce no planejado, no improvável, mas precisa também de improviso para ser divertido, elaboração do construído, intencional e assertivo. Leve, forte, preciso! 
São tantos acervos, tantos repertórios e experiências desenvolvidas ao longo da ação; levantem a mão, abram os cadernos, leiam os livros, olhem a lousa, vejam a agenda, guardem os lápis, peguem as canetas, prestem atenção, atenção na desatenção, vivam esse momento, vivam esse instante, lembrem-se de olhar para o lado, ver o amigo sorrindo, divertisse com as bobagens faladas, levantar corpo, mente e alma, ser feliz...ser feliz... Aprendam!
Lembrem-se de anotar o mais importante, de estudar o essencial para a transformação, esforçasse para não piscar no momento mais legal e espontâneo com as outras crianças e adolescentes! 
São crianças crescendo! Não é fácil, e numa escola, elas estão por todos os lados. 
Mas, hoje, ao retornar para a docência de História, lembrei-me do momento em que fiz essa escolha e sua importância na minha trajetória. 
...E olhei e fui a todo tempo olhado. 

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

O ESTADO DA FLOR por FÁBIO MONTEIRO

     Colaboração entre Olivier Baussan e Joana Lira, ilustradora e artista gráfica brasileira.


O estado é a representação da situação, o estado das coisas.
Pode ser mais que isso, mas também menos que o esperado pelos cidadãos.
Estado opressor com poder em dizer não para tudo que é imanente, e sim, para coisas perecíveis, insensatas, inconsequentes.
Esfera de poder que tem capital e  território também.
Representação desfigurada do sólido numa sociedade tão líquida.
Evaporação dos sonhos, fruição das insignificâncias.
Dilatação nas extremidades - do apelo à necessidade, do sublime à pieguice conjuntural.
Não há estado de tranquilidade na desesperança que os caminhos dissimulados ofertam.
Tanto estado, tanto status, tanto sentimento estatizado para nada.
Nessa economia malthusiana, toda nossa de todos os dias, poucos resistem.
Se há estado, ele também sobrevive minguado.
Num lugar em que o soberano governa por entre nuvens, distante das leis, nublado que nem elas, pouco resta a perguntar pelo futuro das crianças, por caminhos possíveis, por transformações significativas.  
Afora poucas horas num estado perene de solidão e angústia,
sobra um pouco de tempo para pensar nas flores. E elas são tantas, não é?
A primeira vez que as vi foi num sonho, depois na vida, depois em tantas memórias:
Amarelas, rubras, murchas, espinhosas, calamitosas, funerárias.
Tantas no sol a sol,
na chuva temporalizada, no sertão duro, no mar profundo,
e acho que as vi também em alguma imersão discretamente humana.
No lugar que nasci, num outro que escolhi, na fronteira da desistência.
As flores assombram em suas quantidades e formas, e sobram nas suas diversidades e gentilezas. Nas resistências e incertezas, no virtuosismo e perfume.
E no estado vaporoso de tempos incertos, e conspiratórios,
quem dera um dia retornar ao mundo flor resistente de mandacaru,
 bela como só ela.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

PALAVRA E SILÊNCIO



O silêncio é lugar de descanso: da fala, do gesto, da ação. 
É anúncio de que o corpo pede escuta, sangue pulsante, mistério da vida. 
Carro parado, louco estático, mundo suspenso.
Necessidade de ficar deitado, sem algodão nos ouvidos, olhos sem movimento. 
Tudo parado, tudo, absolutamente tudo suspenso. 
Não é nada demais, apenas vontade de que tudo cesse sem exaustão para o encontro da calma. 
Aliás, silêncio e calma são quase confundíveis, com exceção da calma verbalizada que rompe o silêncio. 
Quanto mais alardeiam calma, menos o silêncio se instaura. 
O silêncio ajuda a olhar o movimento das coisas, as cores mais profundas das oposições, o despertar mais extravagante do precário. 
É raro encontrá-lo. Fala-se mais que o máximo, menos que o mais necessário.   
Evita-se pouquíssimo cada som, rompe com um incômodo que mal cabe na frase; liga o som, televisão, liquidificador, bate-panela. 
Panelas vazias de silêncios e palavras.  
Fala de si, fala do outro, fala de forma vulgar e alheia ao sentimento, ao suspiro, ao próprio ato espontâneo de calar. 
O silêncio é raro. 
Silêncio.

Intoxicam toda o ar e desprezam o mais importante dos vazios,
o inexorável sentido preenchido pela ausência de cada palavra.