O silêncio é lugar de descanso: da fala, do gesto, da ação.
É anúncio de que o
corpo pede escuta, sangue pulsante, mistério da vida.
Carro parado,
louco estático, mundo suspenso.
Necessidade de
ficar deitado, sem algodão nos ouvidos, olhos sem movimento.
Tudo parado, tudo,
absolutamente tudo suspenso.
Não é nada demais,
apenas vontade de que tudo cesse sem exaustão para o encontro da calma.
Aliás, silêncio e
calma são quase confundíveis, com exceção da calma verbalizada que rompe o
silêncio.
Quanto mais alardeiam calma, menos o silêncio se instaura.
O silêncio ajuda a
olhar o movimento das coisas, as cores mais profundas das oposições, o
despertar mais extravagante do precário.
É raro
encontrá-lo. Fala-se mais que o máximo, menos que o mais necessário.
Evita-se
pouquíssimo cada som, rompe com um incômodo que mal cabe na frase; liga o som,
televisão, liquidificador, bate-panela.
Panelas vazias de
silêncios e palavras.
Fala de si, fala
do outro, fala de forma vulgar e alheia ao sentimento, ao suspiro, ao próprio
ato espontâneo de calar.
O silêncio é
raro.
Silêncio.
Intoxicam toda o
ar e desprezam o mais importante dos vazios,
o inexorável
sentido preenchido pela ausência de cada palavra.
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