pois ninguém está só
Quando o carteiro chegou... 9
É o texto que me leva à leitura. Texto, digo e repito, palavra e imagem. Palavra e imagem que nem sempre necessitam ser ilustradas, salientes. O silêncio e o vazio falam à criança e ao jovem leitor. A ausência também, também o mistério. E quanto mais forte e leve for o texto, mais longe vou... E não posso deixar de assinalar que, cuidadoso, o trabalho com a linguagem de Fábio Monteiro tem se revelado aberto para a leitura em voz alta.
Do começo ao fim, leio e ouço Cartas a povos distantes.
Experimente um parágrafo da página 32:
Em seu livro, Fábio Monteiro conta a história de Giramundo, um menino que inventa línguas e lugares, mas inesperadamente passa a receber mensagens de um remetente desconhecido, de um país que ele apenas sabia ficar do outro lado do oceano... São cartas que vêm de Angola, de um amigo de Luanda. Na correspondência feita de papel e coincidências, os dois meninos começam a descobrir um ao outro através da palavra escrita e do espanto... A trama passeia entre discursos, do mundo comentado ao mundo narrado, do exercício epistolar a uma amizade sem fronteiras, traço da própria identidade, rumores do tempo a que pertencemos. Um Giramundo de cá, um amigo de lá. Como construir pontes de solidariedade e conhecimento?
Entre perguntas e respostas, o silêncio tudo amarra. Cada um dos personagens (e também o leitor) descobre que não está só. A correspondência entre os dois meninos, de um modo bastante significativo, atravessa de novembro de 1985 a março de 1986. Apesar de 10 anos independente da colonização portuguesa, Luanda aguardava ainda a retirada das forças estrangeiras em um cenário movimentado por uma guerra civil que duraria quase três décadas. No intervalo criado pela narrativa de Giramundo e seu amigo distante, o momento histórico talvez seja uma sombra desconhecida e tênue que vai se preenchendo apenas da vontade de receber a próxima carta; no entanto, é uma fração do tempo que o livro traz para ancorar, a todos nós, em nosso presente...
Cartas a povos distantes, de Fábio Monteiro, tem as ilustrações e o projeto gráfico assinados por André Neves (Paulinas, 2015).
É o texto que me leva à leitura. Texto, digo e repito, palavra e imagem. Palavra e imagem que nem sempre necessitam ser ilustradas, salientes. O silêncio e o vazio falam à criança e ao jovem leitor. A ausência também, também o mistério. E quanto mais forte e leve for o texto, mais longe vou... E não posso deixar de assinalar que, cuidadoso, o trabalho com a linguagem de Fábio Monteiro tem se revelado aberto para a leitura em voz alta.
Do começo ao fim, leio e ouço Cartas a povos distantes.
Experimente um parágrafo da página 32:
Todos os dias verificava se havia alguma correspondência na caixa do correio. Cada vez que a abria e nada encontrava, a angústia da espera aumentava. Naquele tempo, os minutos, horas, dias eram mais longos que hoje. As distâncias também. O mundo era grande e muito diferente do que imaginamos hoje. Mal conhecíamos o lugar em que morávamos. As cartas levavam dias para chegar a seu destino. Claro que isso tinha certo charme – entre a espera e a chegada, criava-se um misto de ansiedade e alegria em receber notícias das “gentes” de longe.
Em seu livro, Fábio Monteiro conta a história de Giramundo, um menino que inventa línguas e lugares, mas inesperadamente passa a receber mensagens de um remetente desconhecido, de um país que ele apenas sabia ficar do outro lado do oceano... São cartas que vêm de Angola, de um amigo de Luanda. Na correspondência feita de papel e coincidências, os dois meninos começam a descobrir um ao outro através da palavra escrita e do espanto... A trama passeia entre discursos, do mundo comentado ao mundo narrado, do exercício epistolar a uma amizade sem fronteiras, traço da própria identidade, rumores do tempo a que pertencemos. Um Giramundo de cá, um amigo de lá. Como construir pontes de solidariedade e conhecimento?
Entre perguntas e respostas, o silêncio tudo amarra. Cada um dos personagens (e também o leitor) descobre que não está só. A correspondência entre os dois meninos, de um modo bastante significativo, atravessa de novembro de 1985 a março de 1986. Apesar de 10 anos independente da colonização portuguesa, Luanda aguardava ainda a retirada das forças estrangeiras em um cenário movimentado por uma guerra civil que duraria quase três décadas. No intervalo criado pela narrativa de Giramundo e seu amigo distante, o momento histórico talvez seja uma sombra desconhecida e tênue que vai se preenchendo apenas da vontade de receber a próxima carta; no entanto, é uma fração do tempo que o livro traz para ancorar, a todos nós, em nosso presente...
Cartas a povos distantes, de Fábio Monteiro, tem as ilustrações e o projeto gráfico assinados por André Neves (Paulinas, 2015).
“E, quando não aguentou mais o peso do conhecimento,
dormiu um sono dobrado pela certeza de
querer ainda mais e mais conhecer esse amigo.”
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http://dobrasdaleitura.blogspot.com.br/2015/07/pois-ninguem-esta-so.html