“Dias cansativos e muitos amigos diferentes. Os da escola gostam tanto de leitura quanto eu. Mas, não dão tanta atenção para mim quanto os de casa. Pensam que não entendo o que entendem. Eu só preciso de um tempo maior para imaginar coisas tão fantásticas quanto eles.” Este é um trecho da narrativa de Flora, uma menina apaixonada por livros, que tem Síndrome de Down, e se sente distante dos demais colegas na escola. A história é contada no livro O Clube dos Livros Esquecidos (assista booktrailer aqui), escrito por Fábio Monteiro, e que serviu com fonte para a mesa-redonda “Igual, mas diferente: síndrome de Down e inclusão” promovido pela Editora do Brasil no ultimo dia 17 de novembro, na capital paulista. O encontro concluiu o ciclo de debates gratuitos que marca o lançamento da coleção Toda Prosa Falando sobre a vida, Falando sobre o mundo cujas obras tratam dos principais dramas e polêmicas, típicos da infância e adolescência, que têm relevância na vida de todas as pessoas e afetam toda a sociedade. O debate abordou como a escola pode contribuir para a construção do conhecimento, inclusão, autonomia e socialização dos jovens com deficiência. Na plateia, um público composto por 60 pessoas dentre representantes de escolas, coordenadores pedagógicos, professores, educadores, pais, estudantes e interessados no assunto. Todos ouviram atentos ao debate entre o autor Fábio Monteiro, o pediatra José Moacir Lacerda, a psicóloga especialista em Educação, Liliane Garcez, a professora da Escola da Vila, Maria da Paz Castro “Gunga” e a militante para inclusão das pessoas com deficiência, Elizabeth Lucchetti.
No início, o jornalsita Paulo Galvão, mediador dos encontros, perguntou aos convidados se as escolas estão, na prática, preparadas para receber os alunos com algum tipo de deficiência. Para responder a questão, a psicóloga e especliaista na área de inclusão da pessoa com deficiência, Liliane Garcez, disse que a educação inclusiva significa uma educação de qualidade para todas as pessoas. Isso ocorre a partir da troca de informações, da convivência com o aluno e na tentativa de não esteriotipar a criança em cima de preconceitos. Segundo afirma, tanto a sociedade quanto a escola precisam compreender que as pessoas com Síndrome de Down não são diferentes, mas pouco familiares – uma vez que, até pouco tempo, as crianças permaneciam mais em suas casas ou nas clínicas especializadas. “Elas tem sim suas singularidades, mas devemos pensar que são singularidades em determinadas situações de relações sociais e para aprender alguma coisa. Já em outras, não.”
O escritor Fábio Monteiro conta que, inicialmente, pretendia escrever uma história sobre uma criança amante da leitura como enredo para O Clube dos Livros Esquecidos. Ao redigir o texto, se depara com Flora, uma personagem de olhos oblíquos e amendoados, de mãos e pés pequenos. Ela tem uma dificuldade para lidar com algumas situações desafiadoras e, ao mesmo tempo, a menina tem toda a competência e capacidade para tratar do mundo em que vive. Para o autor, a escola é um lugar de diversidade e, simultaneamente, é onde devem ser percebidas as singularidades das crianças. “Isso revela a condição humana de que temos que lidar com todas as pessoas que estão dentro da escola e na vida.”
Já a professora Maria da Paz Castro “Gunga”, a escola, como uma comunidade voltada a todos os estudantes, deve aceitar o aluno com deficiência e evitar o tratamento diferenciado deste em relação aos outros. Segundo diz, independente das metolodigas de ensino e aprendizagem a serem aplicadas, a presença de uma criança com deficiência auxilia a transformar o próprio ambiente escolar. “A gente aceita essas crianças na escola, mas eles trabalham muito mais pela comunidade do que nós. Eles não são diferentes. Entrou na escola, pegou a mochila, colocou a camiseta da escola, é aluno.”
Mãe de um menino com Síndrome de Down, de doze anos de idade, Elizabeth Lucchetti relata a busca por escolas que acolham o filho como uma criança da mesma forma que outras. Segundo conta, o filho estuda atualmente numa escola que, independente da pedagogia, aceita alunos com deficiência. No entanto, diz que a pesquisa não foi fácil porque recebeu muitas algumas respostas negativas por falta de interesse ou preparo das instituições e professores. “Numa outra escola, eu percebi que até a tinham a vontade de trabalhar com a inclusão. Mas, eu não senti a receptividade dos professores. Professores que não gostavam de trabalhar com o aluno que tem alguma tipo de dificuldade ou que simplesmente acham que a criança com Síndrome tem que estudar numa escola especial.”
Para o pediatra José Moacir Lacerda, a inclusão é um ato político no qual se pensa em oferecer o mesmo tipo de apoio a qualquer pessoa na perspectiva de receber tratamento idêntico. O médico acrescenta que numa sociedade em que se valoriza o sucesso e a perfeição do corpo, falta para as pessoas o entendimento de que a inclusão começa em si e não no deficiente. “Quando a gente pensa sobre a possibilidade de inclusão, a gente tem que pensar que isso está em nós e não no outro. Enquanto eu olho para o outro porque ele não faz, eu perco a possibilidade de mudar o outro não pelo que eu digo, mas pelo que eu sou.”
Coleção Toda Prosa
A coletânea Toda Prosa Falando sobre a vida, Falando sobre o mundo compreende dez obras de alta qualidade literária e gráfica cujas narrativas oferecem diversas possibilidades de trabalho em aula, conversas descontraídas a discussões mais profundas. De acordo com os coordenadores da Editora do Brasil, os assuntos selecionados afetam o cotidiano dos jovens e o professor se depara com desafios que não podem ser ignorados no trato dos temas.
Por isso, ao perceberem uma sociedade em transformação, os representantes da empresa entendem que o papel do educador ultrapassa os conteúdos curriculares. Assim, as quatro mesas-redondas realizadas em outubro e novembro tiveram como referência livros que integram a coleção Toda Prosa. Confira, abaixo, um resumo dos encontros que, além da inclusão da criança com Síndrome de Down, debateram “as novas configurações familiares”, o “bullying: um problema da escola, um problema da sociedade mesa”, o “universo psicológico do aluno e o ambiente escolar”.
Os encontros, mediados pelo jornalista Paulo Galvão, contaram com uma plateia a qual pode sanar dúvidas e interagir com os especialistas. Dessa forma, segundo os representantes do projeto, é possível discutir o papel da escola diante dos principais dramas e polêmicas, típicos da adolescência, que têm relevância na vida de todas as pessoas e afetam toda a sociedade. Os coordenadores pedagógicos e professores de escolas públicas e privadas constituíram o principal público-alvo. Mas, também foi destinado para gestores escolares, pesquisadores e dirigentes de instituições reguladoras da educação em nível regional
Tratamento sobre composições familiares demanda diálogo
As “novas configurações familiares” foi o tema da abertura do ciclo, em 26 de outubro, na qual foi abordado como a escola pode promover o tratamento natural e respeitoso das questões relativas às diferentes composições familiares. Participaram do encontro, o psicólogo e especialista em medicina do comportamento da Unifesp, Ricardo Monezi, a psicoterapeuta especializada na infância e adolescência, Elizabeth Monteiro, o diretor geral do Colégio Marista Arquidiocesano, Ascânio João "Chico" Sedrez, e o autor do livro Vento Forte, de Sul e Norte, Manuel Filho (assista booktrailer aqui). Na obra, o escritor conta a história da menina Luisa, uma criança negra adotada por casal homossexual, e que se depara com situações de preconceito diante da sua realidade. Para os convidados desta mesa, o diálogo contínuo entre responsáveis e educadores é o caminho para melhorar o tratamento igualitário das diferentes configurações familiares.
Bullying: problema de saúde pública
O segundo encontro, realizado no dia 05 de novembro, abordou como a escola, enquanto formadora de cidadãos, pode lidar com as situações de bullying e promover práticas que instituam respeito, a igualdade e a conscientização sobre o problema. A mesa teve como referência a obra Jogo Duro (assista booktrailer aqui), da autora Eliana Martins, e os especialistas demonstraram que o bullying se tornou um problema real de saúde pública no país. Segundo dizem, a prática atinge igualmente, além das vítimas, os agressores, pais e educadores, geram transtornos psicológicos, doenças como diabetes nervosa e depressão. Assim, ressaltam que o acolhimento aos envolvidos, a prevenção na escola e tratamento familiar são formas de se combater esta violência. Além da escritora, participaram do debate o especialista em medicina do comportamento da Unifesp, Ricardo Monezi, a psicoterapeuta especializada na infância e adolescência, Elizabeth Monteiro, a gerente educacional da Associação Cultura Franciscana, Ana Carlota Vieira Niero, e a empresária Milena Cavalheiro.
Isolamento é primeiro indício de problemas com crianças
No painel seguinte, no dia 10 de novembro, os convidados debateram o universo psicológico do aluno e o ambiente escolar inspirado em A Sala dos Professores (assista booktrailer aqui), escrito pela professora argentina Carla Dulfano. Para os estudiosos em psicologia e em educação, o isolamento no ambiente escolar é o primeiro sinal de problemas com as crianças tanto na vida privada quanto escolar. A autora do livro, o psicólogo e especialista em medicina do comportamento da Unifesp, Ricardo Monezi, a psicóloga e especialista em inclusão, Sonia Casarin, e a diretora geral pedagógica do Colégio Visconde de Porto Seguro, Silmara Casadei, participaram da mesa. Segundo afirmaram, pais e escolas podem identificar a ocorrência de situações problemáticas com os alunos que podem afetar o desenvolvimento cognitivo, emocional e social de uma pessoa.
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