Hoje o dia amanheceu balançando em vagões.
O trem passou deslocado, em movimento que hora
pendia para um lado,
hora contentava-se em seguir seu fluxo.
O sol adentrou os espaços vazios, fez-se azul, vermelho,
amarelo nas coisas que há.
Intruso de uma noite pequenininha, com poucos sonhos, com
pouco tempo de adolescer.
Lembrei-me da cidade quase sem noite que nasci. Das
tardes num mar quente feito sol.
Do mendigo no Cais de Santa Rita puxando seu cobertor de
papelão para esconder
olhos dos raios.
Lembrei-me do seu Juarez e a inesquecível mania de empinar
papagaios depois dos 50,
a bichinha balançando de vento e ele firme dando solavancos
na armação de palha e papel de seda. Não sei como ela aguentava, mas balançava
sua calda de plástico azul em agradecimento, confundindo-se com as tonalidades
de um céu sem nuvens.
A menor vontade de ser dia,
as gentes indo aos trabalhos,
um mar de prédios e sem janelas para o mar ,
o rio recortando a cidade em silêncio, cheio de dissabores.
E o sol queimando como se fosse trem; seguindo o trilho,
seguindo o rio, seguindo as gentes.
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